Primeiramente, vale destacar: uma barragem de rejeitos é construída para fins de contenção, acumulação e sedimentação de rejeitos de mineração (finos ou grossos), ou de outros processos industriais, como, por exemplo, a fabricação de papel.
Pois bem, atentando-se inicialmente a esta consideração, podemos continuar. Uma barragem pode ser classificada de acordo com o material utilizado em sua execução: terra, enrocamento (núcleo argiloso, asfáltico, face de concreto, etc), gravidade, gravidade aliviada, mistas, etc. Diferentemente do que talvez possa parecer, uma barragem não se torna mais ou menos segura em função do material ou do método construtivo utilizado em sua estrutura.
A escolha dos materiais e do método construtivo de uma barragem é resultado de uma profunda análise técnica e financeira, que considera a disponibilidade de insumos locais, acessibilidade ao canteiro de obras, custos, riscos, e outras diversas variáveis.
Escolhendo como exemplo uma barragem com aproveitamento hidrelétrico (como a de Itaipu), há um retorno financeiro e uma dependência elétrica muito considerável. E no caso de uma barragem de contenção de rejeitos, não há este retorno ou esta pressão. As contenções apenas recebem os resíduos de um processo industrial, e tudo que envolve estas estruturas é considerado despesa. Pode parecer lógico para alguns e sensacionalismo para outros, mas são questões simples de mercado.
O primeiro dos dois pontos que irei destacar é a manutenção preventiva. As barragens com finalidade de reservação de água e aproveitamento energético talvez possuam um maior rigor em seus planos de manutenção. E, acompanhados de medidas corretivas, quando necessário, a "saúde" da estrutura pode ser garantida. Quando existem limitações financeiras, estas medidas, mesmo que relatadas e expostas, podem não sair do papel e a barragem pode, num caso extremo, mas não tão incomum, se romper. Como foi o caso da famigerada barragem de Fundão.
O segundo ponto estaria relacionado ao processo de alteamento da barragem. Como a finalidade é de acumulação, o reservatório tem uma capacidade máxima, e dependendo da topografia local, a barragem pode ser alteada, prolongando sua utilização. Este processo traz problemas típicos ligados a construção adaptada a estruturas já existentes.
O aumento da altura e o nível de água do reservatório variam as poropressões, o fluxo e as tensões na barragem propriamente dita e em sua fundação. Estruturas impermeáveis, filtros e outros elementos de drenagem devem ser reavaliados para assegurar que os efeitos da majoração das cargas hidráulicas sejam devidamente incorporados na nova geometria da barragem. Da mesma maneira, analises da estabilidade dos taludes e do recalque da fundação devem ser atualizados, visando preservar a integridade da estrutura existente e prever o comportamento do resultado final. Novamente, este estudo pode não ser barato e talvez possa ser negligenciado pelo empreendedor.
Hoje muitas barragens encontram-se em condições semelhantes a de Fundão, com riscos altíssimos de rompimento. Em escalas menores, para qualquer que seja a finalidade de utilização de uma barragem, a concepção deve ser sempre estudada e jamais a execução deve ser feita sem apoio técnico. Caso contrário, os acidentes continuarão acontecendo.
Fonte: PUC Rio, Samarco, Eletrobras
Fonte da Imagem: Notibras