As técnicas de construção natural têm sido evoluídas ao longo de muitos séculos. Eventos históricos, como as guerras, inspiraram os construtores a desenvolver novas soluções, principalmente para a arquitetura habitacional. Uma dessas ideias surgiu a partir dos diques – barreiras fortes e protetoras – erguidas por militares em diversas localidades do mundo, para o controle de possíveis inundações.

Os termos ‘earthbag’ e ‘superadobe’ ganharam popularidade por volta da década de 1980, através do trabalho do iraniano Nader Khalifi. Esse arquiteto visionário foi, talvez, o profissional que mais se aprofundou nos estudos envolvendo esse método, utilizando sacos de terra para criar edifícios permanentes. Sua principal inspiração tem sido as cúpulas, abóbadas e arcos com adobe construídos costumeiramente no Oriente Médio. Em 1981, em um simpósio da NASA – National Aeronautics and Space Administration – Khalifi demostrou maneiras de se construir abrigos no espaço utilizando poeira lunar.

O que seria Earthbag?

Earthbag é um método de construção muito antigo. Ele consiste em empilhar sacos individuais cheios de terra para construir edifícios permanentes. Também é considerado um tipo de arquitetura bastante prática, segura, ambiental, sustentável e econômica – há exemplos dela espalhados em mais de trinta países ao redor do mundo. Utilizam-se, ao máximo, os recursos disponíveis no local da própria obra. Também são combinadas antigas práticas com tecnologias modernas, o que só traz grandes vantagens. Essa é uma mudança considerável na abordagem sobre a criação de habitações mais acessíveis.

Emprego da tecnologia

As edificações erguidas pelo método earthbag podem suportar temperaturas severas, tiros de projéteis, terremotos, inundações e mais. Talvez, por tudo isso, seja uma das tecnologias mais empregadas na construção civil em regiões carentes, onde há a necessidade de se fornecer, rapidamente, unidades habitacionais seguras, resistentes e baratas. Um exemplo é o Nepal, que sofreu um forte abalo sísmico em 2015, deixando milhares de pessoas desabrigadas. Ou a Indonésia que foi atingida por um tsunami em 2004. Ambos os países passam, hoje, por um processo de reconstrução. [p]
[p]Algumas organizações, como o ‘Construtores Sem Fronteiras’, têm utilizado esse método para ajudar na situação de populações migrantes, criando suas novas comunidades, com direito a escolas, abrigos de emergência e mais. Mas, as edificações em earthbag podem ser usadas também para outros fins, como cisternas, adegas, escritórios, entre outros. Geralmente, os códigos da Nova Zelândia e da África do Sul têm servido de parâmetro para todas essas construções, já que esses foram, por hora, os únicos países que estabeleceram qualquer legislação voltada para o emprego dessa tecnologia.

Construindo as primeiras camadas

Para começar a construir uma casa pelo método earthbag, primeiro deve-se certificar que a base do terreno está bem limpa e nivelada. Uma vala, cavada no solo já estável, é preenchida com cascalho angular ou rocha vulcânica esmagada, além de cimento. Depois, as primeiras fiadas levam sacos, também preenchidos com os pedriscos. Estes cursos, acima do nível do solo, devem formar uma fundação mais resistente à umidade.

Para earthbag é mais indicado a construção de paredes curvas, pois elas proporcionariam mais estabilidade lateral. Neste modelo, os ambientes teriam a planta redonda e o teto abobadado. Porém, é possível, sim, erguer paredes retas também – medidas acima de cinco metros de comprimento têm a necessidade de contrafortes ou pilares. A cobertura, neste caso, pode ser convencional. A resistência desse sistema é reforçada com a aplicação de cordas e arames entre as camadas de sacos.

Assim como os militares faziam na guerra, os materiais utilizados, hoje, para construções em método earthbag são, resumidamente, sacos de areia e arame farpado. Esses sacos podem ser de arroz, de farinha ou de areias, feitos em serapilheira, cânhamo, juta, linho, polipropileno ou outros plásticos reciclados – a medida não pode ser menor que quarenta e cinco centímetros.

Não importa a escolha, o importante é que eles sejam resistentes e duráveis, principalmente quanto à umidade e à luz solar. O preenchimento dos sacos é, geralmente, feito de composição mineral, não sujeito a decomposição. Podem-se adicionar ao composto de areia e argila materiais estabilizadores, como cimento, cal ou carbonato de sódio. Em no máximo dois meses a mistura já estará tão dura como se fosse concreto. Quanto mais compridas, preenchidas e compactadas as unidades, mais estabilidade terá a estrutura. O arame farpado, entre as camadas, principalmente naquelas onde os sacos são mais curtos, servirá para fornecer às paredes mais resistência à tração, assim como a argamassa para os tijolos em uma construção convencional.

Processo de acabamento

Os sacos utilizados para erguer uma estrutura pelo método earthbag não podem ficar expostos ao sol e ao tempo. Eles devem receber algum tipo de proteção e isso não precisa ser feito com nenhum material muito caro. Só haverá maiores dificuldades nesse processo se a região, onde foi construída a edificação, for muito úmida. Fora isso, estruturas assim costumam ser acabadas externamente com gesso, estuque ou adobe. Já do lado de dentro, basta uma fina camada de gesso para se obter uma aparência suave e agradável.

Vantagens e desvantagens

Utilizar esse método construtivo pode representar mais vantagens do que desvantagens. Primeiro porque qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento de engenharia civil pode erguer, de forma simples e rápida, uma edificação com sacos de terra. Basta ter uma quantidade razoável de força física. Depois, o earthbag proporciona uma considerável redução nos custos e no tempo de construção, sem que haja, por exemplo, a necessidade de fabricação e transporte de materiais.

Quando bem construídas, essas edificações podem durar vários anos. Porém, elas requerem manutenções constantes, devido ao intemperismo. Deve-se evitar, por exemplo, paredes ressecadas, rachadas, com acabamentos descamando, sacos expostos, arames enferrujados e qualquer outro tipo de degradação progressiva. Se a corrosão dos materiais representar um risco muito sério, a construção deve ser demolida. A boa notícia é que quase cem por cento do seu entulho pode ser reciclado para uma nova edificação, se for também erguida por earthbag. Isso seria uma boa contribuição para o meio ambiente.



Fonte de conteúdo e imagem: Civilização Engenheira