Em outubro, três companhias americanas incluíram um benefício incomum a seus funcionários. Agora, quem trabalha para a 3M, dona de marcas como Post-it e Durex, a empresa de tecnologia Cisco e a fabricante de produtos de higiene Kimberly-Clark pode ter em casa painéis para converter a luz solar em energia elétrica por um preço 35% menor do que o encontrado no mercado.
"Encorajamos nossos funcionários a agir de forma sustentável não só no nosso negócio mas também fora dele", diz Gayle Schueller, vice-presidente global de sustentabilidade da 3M.
Para dar a seus empregados a oportunidade de usar energia limpa a um custo menor, essas companhias não tiraram um centavo do caixa. Elas tiveram apenas de se aliar a uma ideia e propagandeá-la internamente.
O desconto nos painéis está sendo oferecido por um programa concebido pela organização ambientalista WWF em parceria com a Geostellar, uma startup de energia solar dos Estados Unidos.
O raciocínio da Geostellar, responsável por vender e instalar os sistemas, é que o dinheiro perdido ao conceder o desconto será compensado pelo grande volume de clientes que deverão adotar a tecnologia solar em casa.
Além das três pioneiras, outras nove empresas aderiram ao programa nos meses seguintes. Juntas, elas somam 200 000 funcionários. Para ter um sistema de painéis solares, eles podem optar pela compra à vista ou por parcelar o pagamento em até 20 anos. Nesse caso, pagam cerca de 97 dólares por mês.
Se comparado ao gasto médio mensal de uma residência americana, a economia obtida com o uso dos painéis é de 35%.
"Queremos provar que consumir energia renovável é factível e vantajoso", diz Bryn Baker, coordenadora da área de energia renovável da WWF.
A meta é que, até outubro, 1 000 funcionários tenham energia solar em casa. Com isso, o país deixaria de emitir 74 500 toneladas de carbono por ano — o equivalente a retirar mais de 15 000 carros das ruas.
É a primeira vez que empresas se unem a uma ONG para incentivar o uso de painéis solares nos Estados Unidos. Até então, os consumidores recebiam ajuda do governo: ao comprar um sistema fotovoltaico, é possível obter 30% do valor do equipamento em créditos para ser descontados em impostos federais e estaduais.
No Brasil, não há incentivos do gênero e quem quer ter a tecnologia precisa desembolsar entre 14 000 e 100 000 reais ou encarar financiamentos com juros de até 20% ao ano.
Resultado: existem cerca de 300 micro geradores de energia solar no Brasil, ante quase 580 000 nos Estados Unidos. "A falta de incentivos e financiamentos atrativos inviabiliza a popularização da energia solar em casa no Brasil", afirma Raphael Pintao, sócio da Neosolar, empresa que instala painéis fotovoltaicos.
A boa notícia é que, por aqui, o número de empresas que buscam incentivar seus empregados a adotar práticas sustentáveis na vida privada também vem crescendo. Desde 2010, a operação brasileira do Google deixou de descontar os 6% do salário previstos por lei dos funcionários que recebem vale-transporte para estimulá-los a usar o transporte público no deslocamento para o trabalho.
Desde 2013, a fabricante de gases industriais White Martins conseguiu quadruplicar o volume de resíduos recicláveis recolhidos em sua unidade de Contagem, em Minas Gerais, ao estimular os funcionários a trazer o lixo de casa. Cerca de 150 pessoas colaboram assiduamente com o programa e 4 toneladas já foram enviadas às cooperativas de catadores da cidade.
"O consumo consciente na vida pessoal motiva o funcionário a pensar em alternativas sustentáveis na empresa", afirma Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu, ONG dedicada ao consumo sustentável e que, em 11 anos, orientou mais de 50 empresas a implementar programas desse tipo.
Fonte: Engenharia É