Assim como o sudeste brasileiro, diversas cidades do mundo já enfrentaram ou enfrentam desafios relacionados à falta de água. Na parte dois deste artigo, continuaremos a mostrar as soluções encontradas por seis cidades do mundo, identificadas pelo site BBC Brasil, para suas crises de abastecimento e o parecer do Instituto Socioambiental (ISA) sobre a aplicação destas medidas na realidade paulista.
Zaragoza, Espanha – Conscientização e metas
Nos anos 1990, secas severas deixaram milhões de espanhóis temporariamente sem água. No entanto, um relatório da Comissão Europeia aponta que o maior problema no país é uma cultura de desperdício, e não a falta de chuvas.
A cidade de Zaragoza, no norte, encarou o problema com uma ampla campanha de conscientização em escolas, espaços públicos e imprensa pelo uso eficiente da água e o estabelecimento de metas de redução de consumo. A estratégia incluiu incentivos para a compra de aparelhos domésticos econômicos, melhoria no uso da água em edifícios e espaços públicos e cuidados para evitar vazamentos no sistema. Mesmo com o aumento no número de habitantes, a meta estabelecida em 1997, de cortar o consumo doméstico de água em mais de 1 bilhão de litros em um ano, foi atendida.
Em São Paulo, o ISA aponta que a medida não é apenas viável, mas também necessária. "Se houvesse, por exemplo, um amplo programa de incentivos à aquisição de hidrômetros individuais (em vez de coletivos) nos edifícios de São Paulo, haveria uma economia brutal de água", opina a consultora Marussia Whately. "Também são necessários incentivos à construção de cisternas e sistemas individuais de reúso da água". Ante à urgência da situação, a cidade precisa fixar metas e incentivos à redução do consumo mais duras do que as promovidas atualmente pela Sabesp como, por exemplo, forçando consumidores maiores a cortar mais seu gasto de água e debatendo a imposição de multas a quem aumentou o consumo em plena estiagem.
Cidade do México, México – Novos aquíferos
Em junho de 2014, o presidente mexicano Enrique Peña Nieto afirmou que 35 milhões de habitantes do país têm pouca disponibilidade de água, tanto em qualidade como em quantidade. Essa escassez é grave na própria capital, a Cidade do México, onde fatores como grande concentração populacional, esgotamento de rios e tratamento insuficiente da água devolvida ao solo, causa extrema preocupação. No ritmo atual, a cidade pode não ter água o suficiente em 2030.
Uma aposta da Cidade do México são aquíferos identificados no ano passado, cuja viabilidade está sendo estudada. Estão sendo perfurados poços para não apenas confirmar a existência das fontes subterrâneas de água, mas também avaliar sua qualidade para consumo humano. Até 2016, as autoridades dizem que será possível saber se os aquíferos serão ou não uma alternativa de abastecimento para a megalópole. O problema, dizem, é que a perfuração, a 2 km de profundidade, deve sair muito mais cara do que perfurações de fontes mais próximas à superfície.
Para Whately, o uso de água subterrânea já é uma realidade para diversas cidades brasileiras, mas, por serem importantes reservas de água para o futuro, seu uso deve ser racional. "Ainda temos pouco conhecimento a respeito de nossos aquíferos. Eles precisam ser melhor estudados e mais bem cuidados – por exemplo, há locais em que o uso de agrotóxicos (no solo) pode prejudicá-los".
Cidade do Cabo, África do Sul – Combate ao desperdício
Khayelitsha, a 20 km da Cidade do Cabo, é uma das maiores comunidades carentes do país, com 450 mil habitantes. No início dos anos 2000, uma investigação descobriu que cerca de uma piscina olímpica era perdida por hora por causa de vazamentos em sua rede de água. A principal fonte de desperdício eram os encanamentos domésticos, muitos dos quais deficientes e incapazes de resistir alta à pressão de bombeamento da água. Com isso, aumentavam o consumo de água e também a inadimplência, já que muitas pessoas não conseguiam pagar as contas mais caras.
Um projeto-piloto de 700 mil dólares, iniciado em 2001, funcionou em duas frentes: a reforma de encanamentos ruins e a redução da pressão da água fornecida ao bairro, para evitar os vazamentos. Com a iniciativa, aliada a uma campanha de conscientização para evitar desperdícios, Khayelitsha conseguiu economizar 9 milhões de metros cúbicos de água por ano, equivalente a 5 milhões de dólares.
As perdas de água são um problema enorme em São Paulo. Quase um terço da água é perdida no caminho ao consumidor, o que equivale a todo o volume do Guarapiranga e Alto Tietê juntos. Segundo o ISA, encanamentos antigos podem contribuir para isso, em alguns casos. Seria necessário mapear, com a ajuda das prefeituras, áreas onde há grandes perdas de água e identificar os motivos.
Fonte: BBC Brasil